Nasceu no Egito perto do fim do século III, no ano de 296. Desde a juventude, mostrou ser piedoso, culto e um conhecedor das Sagradas Escrituras. O que foi muito importante posteriormente, quando defendeu a Igreja contra a heresia ariana.
Quando era diácono, foi escolhido pelo bispo para acompanha-lo no Concílio de Niceia, em 25, e chamou a atenção pela erudição e talento com que defendia a fé. Poucos meses depois, tornou-se patriarca de Alexandria e, por 46 anos suportou, muitas vezes quase sozinho, o peso do ataque ariano.
O arianismo foi uma controvérsia cristológica do século IV centrada nas ideias do presbítero Ário de Alexandria, que afirmava que o Filho (Jesus Cristo) não era coeterno nem da mesma substância que o Pai, mas sim a primeira e mais elevada das criaturas. Ário ensinava que “houve um tempo em que o Filho não existia”, ou seja, o Filho foi criado pelo Pai e portanto tem natureza diferente e inferior à do Pai; isso negava a plena divindade e a eternidade do Verbo conforme a tradição apostólica. Ao colocar Cristo como criatura e não como verdadeiro Deus consubstancial ao Pai, o arianismo comprometia a doutrina da Trindade e a explicação teológica da encarnação e da redenção, pois se Cristo não é plenamente Deus, sua obra salvadora e sua participação na natureza divina ficam teologicamente fragilizadas.
O imperador Constantino convocou o Primeiro Concílio de Niceia em 325, onde os bispos formularam o Credo Niceno afirmando que o Filho é “consubstancial ao Pai” (homoousios), rejeitando oficialmente a tese ariana.
Com sua recusa em readmitir Ário à comunhão católica, o imperador ordenou que o patriarca de Constantinopla o fizesse em seu lugar. Ário, prestou um juramento em que dizia sempre ter defendido a mesma fé da Igreja e, o patriarca, depois depois de tentar fazer o imperador mudar de ideia, recorreu ao jejum e à oração, para que Deus livrasse a Igreja desse sacrilégio. Chegado o dia da entrada de Ário no templo de Hagia Sofia, ele e seu grupo dirigiam-se triunfantes para o local, no entanto, antes que chegasse à igreja, ele foi acometido por um mal súbito e morreu.
Atanásio permaneceu impassível contra quatro imperadores romanos; foi exilado cinco vezes; era alvo de insultos, calúnias e desfeitas dos seguidores de Ário e vivia em constante risco de morte. Embora inflexível na defesa da fé, era manso e humilde, agradável e encantador nas conversas, amado por seu rebanho, incansável nos trabalhos, na oração, nas mortificações e no zelo pelas almas.
Em audiência geral o papa Bento XVI falou o seguinte sobre o santo:
“Atanásio foi sem dúvida um dos Padres da Igreja antiga mais importantes e venerados. Mas sobretudo este grande santo é o apaixonado teólogo da encarnação do Logos, o Verbo de Deus, que como diz o prólogo do quarto Evangelho “se fez carne e veio habitar entre nós” (Jo 1, 14).
Precisamente por este motivo Atanásio foi também o mais importante e tenaz adversário da heresia ariana, que então ameaçava a fé em Cristo, reduzido a uma criatura “intermediária” entre Deus e o homem, segundo uma tendência recorrente na história e que vemos concretizada de diversas formas também hoje.
Faleceu no ano de 373, em paz. Deixou para a Igreja a fé íntegra e original, que defendeu e explicou em escritos ricos de inteligência e erudição, claros, perspicazes e de expressão imponente. Santo Atanásio é honrado como um dos maiores Doutores da Igreja. Sua festa litúrgica ocorre no dia 2 de maio.
Obras magnas de Santo Atanásio
Sua primeira obra é umaapologia Contra os pagãos e sobre A encarnação do Verbo. Nela se delineia as grandes linhas de sua Cristologia: “O Verbo de Deus que Se fez homem para que nós fôssemos Deus”. A obra doutrinal mais famosa do santo Bispo alexandrino é o tratado Sobre a encarnação do Verbo, o Logos divino que se fez carne tornando-se como nós para a nossa salvação.
Atanásio diz nesta obra, com uma afirmação que se tornou justamente célebre, que o Verbo de Deus “se fez homem para que nos tornássemos Deus; ele fez-se visível no corpo para que tivéssemos uma ideia do Pai invisível, e ele próprio suportou a violência dos homens para que nós herdássemos a incorruptibilidade” (54, 3). Com a sua ressurreição o Senhor fez desaparecer a morte como se fosse “palha no fogo” (8, 4). A ideia fundamental de toda a luta teológica de Santo Atanásio era precisamente a de que Deus é acessível. Não é um Deus secundário, é o Deus verdadeiro, e através da nossa comunhão com Cristo podemos unir-nos realmente a Deus. Ele tornou-se realmente “Deus conosco”.
Sua grande obra é um tratado de três livros contra os arianos, no qual discute longamente textos bíblicos nos quais Ario pretendia fundamentar sua heresia. O primeiro defende a definição do Concílio de Niceia, a eternidade do Filho de Deus e a unidade da essência divina. O segundo e o terceiro fazem uma exegese dos textos bíblicos que eram debatidos nas controvérsias contra os arianos, e consideradas passagens referentes às relações do Filho com o Pai.
O Símbolo Atanasiano é um compêndio de Fé católica redigido em quarenta sentenças rítmicas. Esta obra fora atribuída a ele a partir do século VII; foi, porém, desconsiderada de sua autoria no século XVII, quando se averiguou que o texto original é latino e não grego. Neste livro o autor propõe os mistérios da Santíssima Trindade e da Encarnação do Verbo, começando e terminando pela afirmação: “Esta é a Fé católica e quem não a professa com firmeza e fidelidade não pode ser salvo”.
A Apologia contra os Arianos foi redigida aproximadamente em 357, quando Santo Atanásio voltou de seu segundo exílio. Trata-se de cartas, atas e decisões de concílios regionais. A Apologia ao Imperador Constâncio, tendo ele sido acusado de instigar o Imperador Constante contra seu irmão Constâncio, é escrita como uma autodefesa (357). Escreveu-a em sua fuga para responder aos que o acusavam. Estando refugiado junto aos monges da Tebaida, escreveu a História dos Arianos.
Há ainda muitas outras obras escritas pelo Santo, tais como a Vida de Santo Antão., Epístola a Marcelino sobre a Interpretação dos Salmos, As Cadeias.
Diversas cartas – infelizmente muitas – estão perdidas. Porém, sabe-se que são escritos de caráter doutrinário, quase como que tratados, nos quais Santo Atanásio comunica as decisões dos Concílios, normas da Igreja – nisso vemos particularmente sua santidade, sua preocupação com a obra de Deus e seu desapego de si mesmo –, sem tratar de assuntos pessoais ou particulares.
Destacam-se As Cartas Festivas, Cartas Festivas Sinodais, Cartas Gogmático-Polêmicas, Epístola ao Bispo Epicteto de Corinto; Carta a Adélio, Bispo e Confessor.
Por toda a sua história, vemos que a vida de Santo Atanásio foi uma constante defesa da expressão da fé definida no Concílio de Niceia. Ele pertencia aos grandes doutores capadócios, herdeiros da tradição de Orígenes, elaborando uma Teologia sobre a Trindade.
Referências:
Vida dos Santos / Alban Butler; Tradução: Emílio Costaguá. – Dois Irmãos, RS: Minha Biblioteca Católica, 2021.
https://www.arautos.org/vida-dos-santos/os-escritos-de-santo-atanasio-de-alexandria-143680
https://www.vatican.va/content/benedict-xvi/pt/audiences/2007/documents/hf_ben-xvi_aud_20070620.html
